FEROMÔNIOS DO BESOURO-AMARELO, COSTALIMAITA FERRUGINEA (FABR., 1801) (COL.: CHRYSOMELIDAE)

 

- Projeto de Tese de Doutorado– 

Rodolfo Molinário de Souza
Orientador: Prof. Norivaldo dos Anjos

Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo assistiu a uma explosão de conhecimentos e inovações tecnológicas, e em relação às interações que ocorrem entre os organismos, mediadas por substâncias químicas, não foi diferente. Nesta época, o pesquisador alemão Butenandt, após 20 anos de pesquisa, identificava e isolava a estrutura química (E,Z)-10,12- hexadecadienol, responsável pelo desencadeamento do comportamento sexual de machos do bicho-da-seda, Bombyx mori (Zarbin, 2001). Tal estrutura química ficou conhecida comercialmente como Bombicol.

Segundo Zarbin (2001), o pioneirismo deste trabalho despertou grande interesse da comunidade científica dada a simplicidade da estrutura química, o que acabou estimulando, posteriormente, vários trabalhos com outros insetos. No entanto, foi Shorey e seus colaboradores que demonstraram em 1967 que tais compostos poderiam ser utilizados no controle populacional de insetos-praga (Zarbin, 2001). Assim, o conhecimento de que os estímulos químicos regulam atividades fundamentais ao ciclo de vida dos insetos contribuiu para que surgissem novos conceitos no manejo integrado de pragas (Bento, 2001).

Os semioquímicos (feromônios e aleloquímicos) podem levar a uma redução significativa do uso de inseticidas convencionais (Vilela & Neto 2001) além de não oferecerem perigo ao meio ambiente, uma vez que, na maioria dos casos, são utilizadas moléculas sintéticas muito próximas daquelas de origem biológica comuns na natureza e, portanto, de fácil degradação (Ferreira & Zarbin 1998).

Todavia, o setor florestal brasileiro é carente desta tecnologia, o que não acontece nos paises da América do Norte e Europa, onde há vários exemplos de sucesso na utilização de semioquímicos para a redução dos níveis populacionais de insetos-praga. Segundo Grant, armadilhas iscadas com feromônios são cada vez mais usadas em florestas para detectar e monitorar infestações de lepidópteros desfolhadores no Canadá e nos Estados Unidos. De acordo com Shea (1995), o monitoramento e a coleta massal, juntamente com a aplicação de inseticidas, têm se tornado uma prática cada vez mais efetiva para a redução dos níveis populacionais de Lymantria díspar , um lepidóptero desfolhador de florestas da América do Norte e Europa. O autor salienta ainda que testes de interrupção do acasalamento (confundimento) em áreas com baixa população têm se mostrado promissores para algumas áreas.

Na década de 70, aumentos consideráveis na densidade populacional do escolitídeo, Ips typographus, levaram à implementação de um programa de coleta massal desta praga em armadilhas iscadas com feromônio na Europa (Paiva & Pedrosa-Macedo 1985). Em British Columbia, no Canadá, um programa de captura em massa, de espécies de Trypodendron Lineatum e outras duas espécies de besouro ambrosia ( Gnathrotrichus sulcatus e G. retusus ), utilizando armadilhas iscadas com lineatin e outros atraentes demonstraram resultados animadores e com grande perspectivas de uso no manejo integrado destes insetos (Paiva & Pedrosa-Macedo, 1985).

No Brasil, o uso de semioquímicos no setor florestal tem sido feito indiretamente, uma vez que esta tecnologia ainda não atingiu avanços significativos para o setor. Por isso, o seu histórico se confunde com o de pragas polífagas como Migdolus fryanus, que ataca a cultura de cana-de-açúcar e que também utiliza o eucalipto como hospedeiro alternativo, e Rhynchophorus palmarum, que é praga das palmáceas.

A principal cultura florestal no Brasil é a de Eucaliptus spp , sendo o Estado de Minas Gerais líder nesta atividade. Entretanto, com a homogeneização do ambiente proporcionado pela expansão da monocultura do eucalipto ocorre o aparecimento de insetos que muitas vezes passam a atingir o status de praga, devido à intensidade de ataques e à periodicidade dos surtos (Ribeiro et al , 2001) .

Uma das principais pragas de eucalipto no Brasil é o besouro-amarelo, Costalimaita ferruginea . Segundo Anjos (1992) estes besouros pertencem à família Chrysomelidae, subfamília Eumolpinea, e ocorrem do Rio Grande do Sul até o Maranhão sendo os adultos facilmente identificados pela coloração amarelo-claro. Os adultos de C. ferruginea se alimentam dos ponteiros e das folhas tenras de seu hospedeiro e os prejuízos são caracterizados pela destruição das mudas, queda na produtividade e dispêndios financeiros para controlar os focos de infestação (Anjos 1992). Portanto, este trabalho tem como proposta identificar, isolar e sintetizar um semioquímico que seja atraente a este besouro e que possa ser utilizado como uma ferramenta de controle dos seus níveis populacionais.

 

2. JUSTIFICATIVA

Apesar da importância do dano econômico ocasionado pelo besouro-amarelo, não existe na literatura descrição do uso de semioquímicos que permitam o monitoramento ou controle deste besouro em plantios comerciais, evitando-se o uso de inseticidas. O controle químico deste inseto tem sido a medida de controle mais utilizada pelos produtores devido à economicidade e à rapidez de ação. Todavia, com o crescimento dos eucaliptais torna-se difícil e oneroso o seu controle. A utilização de tecnologias com base no emprego criterioso de semioquímicos será, certamente, um dos alicerces para um programa de manejo integrado desta praga.

 

3. OBJETIVOS

Visando estabelecer a existência de semioquímicos suscetíveis de serem utilizados no controle e/ou monitoramento do besouro-amarelo, Costalimaita ferruginea , pretende-se:

•  Estudar os comportamentos do besouro envolvidos na comunicação química, como comportamento sexual e/ou de agregação.

•  Estabelecer a existência de aleloquímicos e/ou feromônios suscetíveis de serem utilizados no controle comportamental ou monitoramento de C. ferruginea .

•  Identificar, isolar e sintetizar os possíveis semioquímicos envolvidos na atratividade do besouro.

•  Desenvolver armadilhas que serão utilizadas no monitoramento e/ou controle do besouro desfolhador.